
Confesso que ensinar História para crianças não é tarefa das mais fáceis, mas com a imensidão de assuntos a serem trabalhados, é possível tornar a aula divertida, empolgante e, sobretudo produtiva.
Iniciei no 6º ano com uma aula sobre a Introdução aos estudos históricos. Esse é o primeiro momento dos alunos com a disciplina. As dúvidas surgem a todo momento.As questões mais freqüentes são: porque devo estudar o que já passou?para que guardar todas estas datas? o que tem a ver com minha vida estes fatos? Perguntas essas bastante comuns para os navegantes de primeira viagem Mas lembrem-se, foi dessa forma que o historiador Marc Bloch escreveu “A apologia da historia ou ofício do historiador”, aproveitando a interrogação de um filho que lhe indaga para que serve a história. Mergulhado nesse viés e no prazer do meu oficio, é que também busquei responder para os alunos do 6º ano do colégio Batista, para que serve a história,como de fato o historiador realiza o seu trabalho.
A primeira atividade proposta consistiu na leitura do poema Carlos Drumond de Andrade, intitulado “Antigamente”, o objetivo é que os alunos pudessem identificar fatos que aconteceram no passado que não ocorrem mais no presente. Ou seja, entender os hábitos do passado.E é assim que mantemos uma constante relação com o passado, com a experiências vividas por outros indivíduos, em tempos e lugares distintos.
HAVIA OS QUE tomavam chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: “Farei presente.” Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”; ao que o Reverendíssimo correspondia: “Para sempre seja louvado.” E os eruditos, se alguém espirrava – sinal de defluxo – eram impelidos a exortar: “Dominus Tecum.” Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas tetéias.
ANTIGAMENTE, certos tipos faziam negócios e ficavam a ver navios; outros eram pegados com a boca na botija, contavam tudo tintim por tintim e iam comer o pão que o diabo amassou, lá onde judas perdeu as botas. Uns raros amarravam cachorro com lingüiça. E alguns ouviam cantar o galo, mas não sabiam onde. As famílias faziam sortimento na venda, tinham conta no carniceiro e arrematavam qualquer quitanda que passasse à porta, desde que o moleque do tabuleiro, quase sempre um “cabrito”, não tivesse catinga. Acolhiam com satisfação a visita do cometa, que, andando por ceca e meca, trazia novidades de
Time do Icasa no final da década de 60
baixo, ou seja, da corte do Rio de Janeiro. Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais que velhacos: eram grandessíssimos tratantes. (...) MAS TUDO ISSO era antigamente, isto é, outrora.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antigamente. Citado em: http://www.legal.adv.br/20071007/antigamente/. Acesso em 8 de março de 2010
Após a leitura do poema, solicitei que elaborassem um quadro para mostrar os hábitos do passado e os de hoje, segundo o autor do poema. Objetivo dessa atividade era levar o aluno a perceber que somos parte da história na medida em que nos relacionamos ao longo do tempo, através de nossos hábitos e costumes. Segue o modelo:
Em seguida dei a eles uma tarefa para a aula seguinte. Pedi que os mesmos fizessem uma entrevista com alguém de sua família, indagando qual a importância do estudo da história. O resultado foi satisfatório e as respostas foram as mais diversas. Entre as respostas mais comuns, destacavam-se as que identificavam a disciplina histórica como fonte de estudos do passado ( aqui o passado entendido como a historia dos nossos ancestrais e aquelas que estudavam a historia dos grande homens, dos grande feitos), a velha historia positivista.
No segundo encontro, depois de avaliada a entrevista, tive a oportunidade de falar sobre a nova visão historiográfica, mostrando que a historia se preocupava hoje não com os grande heróis, mais com o excluídos da história, escravos, índios, negro, mulheres etc.Citei um pequeno texto do historiador Jucieldo Ferreira Alexandre. O texto trata de forma clara e didática da renovação historiográfica que deu-se no seio da disciplina histórica.
“Há não muito tempo, a História era somente uma narrativa factualista, centrada na biografia dos “grandes homens” ou nos relatos de batalhas e em datas que deviam ser obrigatoriamente decoradas. Somente os reis, rainhas, papas, generais, etc., ocupavam os livros com suas façanhas. A “verdade histórica” tratava de uma ínfima parcela humana: na história dos “grandes”, os “pequenos” não falavam ou agiam. (Jucieldo Ferreira).
Em seguida apliquei o seguinte questionário:
a) Explique a frase: “na história dos “grandes”, os “pequenos” não falavam ou agiam”.
b) Com as transformações na disciplina da historia, qual o principal interesse dos historiadores ? Quais historias eles pretendem narrar?
Para encerrar o conteúdo, trabalhei com a turma o conceito de Historia e Memória de vida. A atividade proposta foi que eles procurassem um objeto antigo que fizesse parte da história da família e trouxessem para sala de aula com intuito de apresentar a história aos colegas de classe.
Depois de formado um grande círculo, os alunos iam um a um apresentando seus objetos, tecendo comentários sobre os mesmos e falando da importância dele para família e sua vida. O resultado foi genial, confesso que superou minhas expectativas! Os alunos adoraram a atividade, sobretudo devido a quantidade de informações que adquiririam durante a breve pesquisa. Como a turma é numerosa, resolvi realizar um sorteio das melhores atividades. Seguem as fotos, confira o resultado.
Matheus Alves Bezerra - Trouxe um pequeno baú com fotos antigas da família
Maria Clara Brito - Trouxe uma nota de 5 cruzeiros. A nota pertence a seu pai que é numismata.
Lourena Salustiano Amorin (Lourena está escondida atrás do vestido) - Trouxe o vestido de sua vó.O vestido é guardado por sua mãe com muito carinho.
Jacyanne Gino - Trouxe um monóculo
Luisa Lanny - Trouxe um anel de prata que pertenceu a sua avó.
Frabynne Mendes - Trouxe uma bíblia muio antiga que pertenceu ao seu tio. A bílbia é guardada com muito carinho pela família.
A primeira atividade proposta consistiu na leitura do poema Carlos Drumond de Andrade, intitulado “Antigamente”, o objetivo é que os alunos pudessem identificar fatos que aconteceram no passado que não ocorrem mais no presente. Ou seja, entender os hábitos do passado.E é assim que mantemos uma constante relação com o passado, com a experiências vividas por outros indivíduos, em tempos e lugares distintos.
Poema: Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade.
HAVIA OS QUE tomavam chá em criança, e, ao visitarem família da maior consideração, sabiam cuspir dentro da escarradeira. Se mandavam seus respeitos a alguém, o portador garantia-lhes: “Farei presente.” Outros, ao cruzarem com um sacerdote, tiravam o chapéu, exclamando: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”; ao que o Reverendíssimo correspondia: “Para sempre seja louvado.” E os eruditos, se alguém espirrava – sinal de defluxo – eram impelidos a exortar: “Dominus Tecum.” Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas tetéias.

Time do Icasa no final da década de 60
baixo, ou seja, da corte do Rio de Janeiro. Ele vinha dar dois dedos de prosa e deixar de presente ao dono da casa um canivete roscofe. As donzelas punham carmim e chegavam à sacada para vê-lo apear do macho faceiro. Infelizmente, alguns eram mais que velhacos: eram grandessíssimos tratantes. (...) MAS TUDO ISSO era antigamente, isto é, outrora.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antigamente. Citado em: http://www.legal.adv.br/20071007/antigamente/. Acesso em 8 de março de 2010
Após a leitura do poema, solicitei que elaborassem um quadro para mostrar os hábitos do passado e os de hoje, segundo o autor do poema. Objetivo dessa atividade era levar o aluno a perceber que somos parte da história na medida em que nos relacionamos ao longo do tempo, através de nossos hábitos e costumes. Segue o modelo:
Dois tempos
Hábitos do passado | Hábitos do presente |
Em seguida dei a eles uma tarefa para a aula seguinte. Pedi que os mesmos fizessem uma entrevista com alguém de sua família, indagando qual a importância do estudo da história. O resultado foi satisfatório e as respostas foram as mais diversas. Entre as respostas mais comuns, destacavam-se as que identificavam a disciplina histórica como fonte de estudos do passado ( aqui o passado entendido como a historia dos nossos ancestrais e aquelas que estudavam a historia dos grande homens, dos grande feitos), a velha historia positivista.
No segundo encontro, depois de avaliada a entrevista, tive a oportunidade de falar sobre a nova visão historiográfica, mostrando que a historia se preocupava hoje não com os grande heróis, mais com o excluídos da história, escravos, índios, negro, mulheres etc.Citei um pequeno texto do historiador Jucieldo Ferreira Alexandre. O texto trata de forma clara e didática da renovação historiográfica que deu-se no seio da disciplina histórica.
“Há não muito tempo, a História era somente uma narrativa factualista, centrada na biografia dos “grandes homens” ou nos relatos de batalhas e em datas que deviam ser obrigatoriamente decoradas. Somente os reis, rainhas, papas, generais, etc., ocupavam os livros com suas façanhas. A “verdade histórica” tratava de uma ínfima parcela humana: na história dos “grandes”, os “pequenos” não falavam ou agiam. (Jucieldo Ferreira).
Em seguida apliquei o seguinte questionário:
a) Explique a frase: “na história dos “grandes”, os “pequenos” não falavam ou agiam”.
b) Com as transformações na disciplina da historia, qual o principal interesse dos historiadores ? Quais historias eles pretendem narrar?
Para encerrar o conteúdo, trabalhei com a turma o conceito de Historia e Memória de vida. A atividade proposta foi que eles procurassem um objeto antigo que fizesse parte da história da família e trouxessem para sala de aula com intuito de apresentar a história aos colegas de classe.
Depois de formado um grande círculo, os alunos iam um a um apresentando seus objetos, tecendo comentários sobre os mesmos e falando da importância dele para família e sua vida. O resultado foi genial, confesso que superou minhas expectativas! Os alunos adoraram a atividade, sobretudo devido a quantidade de informações que adquiririam durante a breve pesquisa. Como a turma é numerosa, resolvi realizar um sorteio das melhores atividades. Seguem as fotos, confira o resultado.

Matheus Alves Bezerra - Trouxe um pequeno baú com fotos antigas da família

Maria Clara Brito - Trouxe uma nota de 5 cruzeiros. A nota pertence a seu pai que é numismata.
Lourena Salustiano Amorin (Lourena está escondida atrás do vestido) - Trouxe o vestido de sua vó.O vestido é guardado por sua mãe com muito carinho.

Jacyanne Gino - Trouxe um monóculo

Luisa Lanny - Trouxe um anel de prata que pertenceu a sua avó.

Frabynne Mendes - Trouxe uma bíblia muio antiga que pertenceu ao seu tio. A bílbia é guardada com muito carinho pela família.
11 comentários:
Belo Trabalho professor,
Há um tempo venho trabalhando com o ensino médio, e agora como mudei de cidade fui lotada com 6º ano, sua experiencia foi inspiradora para mim... Parabéns pelo trabalho...
gostei,sou profesora tb de historia e fiz essa introdução com a música de Raul,Eu nasci há dez mil anos atrás e fiz uma atividade da mesma!Achei bastante interessante o seu trabalho!!
Adorei as idéias, começei com 6º ano agora, e não sabia o que fazer para dar uma aula interessante para eles, mt obrigado por suas experiências.
Regiane Alves
Parabéns pelo trabalho criativo e por compartilhá-lo. Esse é o segundo ano que vou trabalhar com essa série e não gostaria de trabalhar as mesmas coisas do ano passado, gostei da sua idéia!
ADOREI IREI TRABALHAR COM MINHAS TURMAS DE 6º ANO
Sou estagiária e pretendo aplicar uma parte de suas atividades, gostei muito da sua criatividade!
Fico tão ocupada com minha pesquisa, que acabo negligenciando a "parte dinâmica" das minhas aulas. Parabéns! Ajudou bastante.
Perfeito, muito criativo!
Muito legal! Parabéns. Continue compartilhando suas experiências. Isso é muito bom.
Parabéns professor. Maravilha de aula. Irei aplicar. Show.
amei essa ideia. vou realizar com meus alunos do 6º ano. aulas dinamicas fica mais gostosos aprender.
Parabéns professor vc é 10
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